domingo, 11 de abril de 2010
Há um poeta
Engana-se quem pensa que livreiros lêem muito. Até lemos bastante: bem menos do que gostaríamos e menos do que se imaginaria.
A razão é simples: ocupamos muito tempo manuseando, limpando, organizando livros, ligando livros a pessoas, pessoas a livros, nesse tráfico de idéias, sensações, maravilhamentos, e sobra pouco tempo para simplesmente ler os livros.
Tanto assim que muitos livros passam por nós sem que os conheçamos, e, mais grave ainda, alguns autores ficam desconhecidos.
Mas nunca é tarde, e se a biblioteca é infinita, devem ser infinitos nossos passeares para descobrirmos Paulo Henriques Britto, por exemplo.
Para quem temia que a Poesia pudesse estar totalmente soterrada pela profusão de mediocridades publicadas, é mais do que um alento.
É preciso que haja uma estrutura,
uma coisa sólida, consistente,
artificial, capaz de ficar
sozinha em pé (não necessariamente
exatamente na vertical), dura
e ao mesmo tempo mais leve que o ar,
senão não sai do chão. E a graça toda
da coisa, é claro, é ela poder voar,
feito um balão de gás, e sem que exploda
na mão, igual a um fogo de artifício
que deu chabu. Não. Tem que ser na altura
de um morro, no mínimo, ou de um míssil
terra-a-ar. Sim. Menos arquitetura
que balística. É claro que é difícil.
ACALANTO
Noite após noite, exaustos, lado a lado,
digerindo o dia, além das palavras
e aquém do sono, nos simplificamos,
despidos de projetos e passados,
fartos de voz e verticalidade,
contentes de ser só corpos na cama;
e o mais das vezes, antes do mergulho
na morte corriqueira e provisória
de uma dormida, nos satisfazemos
em constatar, com uma ponta de orgulho,
a cotidiana e mínima vitória:
mais uma noite a dois, e um dia a menos.
E cada mundo apaga seus contornos
no aconchego de um outro corpo morno.
Aqui a página do poeta, contista e tradutor: http://phbritto.org/
Aqui o link para garimpar na Estante Virtual
Aqui, nos Livreiros Virtuais.
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