segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Emily Dickinson, novamente por aqui

Moça bela e prendada que não se sujeitou ao casamento, numa época em que muitas opções eram negadas às mulheres, Emily Dickinson dedicou-se, depois de adulta, a uma vida de completa reclusão, tendo passado mais de vinte anos sem sair de casa e sem receber visitas. Suas únicas tarefas eram cuidar da mãe doente, cozinhar e cultivar flores exóticas, além, é claro, de fazer versos. Nos bolsos do avental ou do vestido branco que costumava usar havia sempre lápis e papel, e entre uma ocupação e outra ela rabiscava os seus poemas. 

     
Estão aqui a Sarah, a Eliza, a Emeline,tão bela, a Harriet,
a Susan, e esta outra de cachos no cabelo;

Ainda que cegos de tristeza, teus olhos podem ver ao pé de
uma árvore estas seis jovens graciosas;

Chega-te com precaução ao pé desta árvore, afronta espaço
e tempo, e audaz escolhe a tua preferida;

E leva-a para o bosque, e faz-lhe um abrigo, e dá-lhe o que
ela te pedir, flores, ou pássaros, ou joias;

E sopra o pífano, e toca o clarim, e bate o tambor; e dá ao
mundo bom-dia, e goza a glória do lar!


Alguns deles eram passados a limpo em cadernos, outros eram enviados a amigos e parentes com os quais ela se correspondia, e outros ainda, na forma de esboços ou de rascunhos quase indecifráveis, eram engavetados. Foram assim encontrados, depois de sua morte, uns na mais completa desordem, outros em mãos de terceiros. O trabalho de edição de sua obra coube de início a um crítico literário, Thomas Higginson, que não apreciava a sua poesia e por mais de uma vez a havia aconselhado a não publicá-la, e à amante de seu irmão, Mabel Loomis Todd, que ela se negara a conhecer pessoalmente. Editados e formatados ao gosto de cada época, os poemas de Emily Dickinson tornaram-se ao longo dos anos um sucesso de vendas e foram aos poucos conquistando a crítica literária, que antes via nela uma simples “poetisa” de ocasião cujos versos “estranhos” e “difíceis” não se enquadravam nos ideais estéticos da poesia lírica, e que hoje a consagrou como uma das maiores expressões da literatura universal.



A branca voz da solidão

Poemas de Emily Dickinson, em tradução de José Lira


Edição bilíngue inglês-português

Editora Iluminuras, 2011










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