sexta-feira, 9 de abril de 2010

ABRIL, MÊS DO LIVRO





Em 1995, a UNESCO instituiu o dia 23 de abril como o Dia Internacional do Livro. A idéia surgiu na Espanha, na Catalunha mais precisamente, onde se passou a oferecer rosas para aqueles que comprassem livros no dia. Uma espécie de Dia dos Namorados, logo se vê, no qual ganham rosas o amante e o ser amado, com a deliciosa estranheza de ambos poderem ser a mesma pessoa.

O simbolismo dessa data é que num 23 de abril morreram Cervantes e Shakespeare. Afirmo que bastaria a menção a Cervantes: o Dom Quixote é por si só uma homenagem ao livro, ao que de perturbador e mágico pode haver num livro, e é o fio que levará a todos os livros satíricos, os melancólicos, os dedicados mais visceralmente à vivência humana, ao sonho, enfim. E o romance ainda traz à luz alguns “personagens” ligados ao livro, como o plágio e o problema dos direitos autorais: logo no início da segunda parte do romance, Cervantes comenta o aparecimento de falsos “Quixotes” publicados após a publicação da primeira parte... Ironicamente, Cervantes inaugura também a linhagem dos livros comentados e conhecidos, mas não lidos, e a do autor preso a um personagem.

Segue-se que em 2 de abril comemora-se o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil, pelo nascimento de Hans Christian Andersen, em cuja homenagem se erigiu uma estátua da Pequena Sereia fitando melancolicamente o oceano num costão rochoso de Copenhage.
Felizmente os dinamarqueses não fizeram como os santistas, que homenagearam Vicente de Carvalho, “o poeta do mar”, com uma estátua em que o bardo caiçara está de costas para o Atlântico. Lembro agora da simpática estátua de Drummond na praia de Copacabana. Na época muitos prefeririam o itabirano de frente para o mar, mas Drummond era um poeta amplo, e o olhar do Drummond, como se pode ver, acompanha a vida que passa, não tanto a que flutua ou se bronzeia.



Seguindo por abril, foi num dia 18 que nasceu Monteiro Lobato, um doido que vaticinou que o Brasil poderia explorar petróleo, que fundou uma editora, a Companhia Editora nacional que – ora veja! - ousou vender livros à distância, por reembolso postal. Alguém duvida que Lobato teria vislumbrado, antes que todos, a viabilidade da venda de livros pela Internet?

Mas afinal de contas eu teria escolhido outra data. Foi num dia 3 de fevereiro que Johannes Gutenberg, de cuja data de nascimento não se tem certeza – talvez tenha sido num abril – deixou a vida para entrar para a História, ou seja, para os livros. Costuma-se dizer que ele foi o inventor dos tipos móveis, quando na verdade eles já eram usados na China. Mas o que ele fez de revolucionário foi encontrar uma forma de produzir os tipos em quantidade, em metal e não em madeira, a imprimir com tinta à base de óleo e a utilizar uma prensa de madeira para a fixação da tinta no papel. Se eu não lhe devesse o respeito que tenho, poderia comentar que Gutenberg era homem de tino comercial apuradíssimo. Tratou de inaugurar a imprensa emplacando logo um livro de auto-ajuda campeão de vendas: a Bíblia.

5 comentários:

  1. Foi em abril também que nasceu o Edmundo (dia 2), que não escreveu nenhum livro, mas andou fazendo alguns gols de letra.. (infame?)

    ResponderExcluir
  2. Pô, Zé, que papo é esse de aprovar comentário?

    ResponderExcluir
  3. João, seu comentário sobre Edmundo é prova cabal de que é necessária sim a aprovação de comentários! E ademais, literariamente falando, só conheço dois grandes: Pelé e Garrincha, que nunca vestiram a verde do Palestra. O Mané, mesmo em final de carreira, vestiu o manto alvinegro.

    ResponderExcluir
  4. Caro João.
    O Magnâmino, o Onipotente, o Piedoso Deus do Futebol, quando não está ocupado em traçar gols espíritas ou em bafejar com a genialidade algum anjo de pernas tortas ou algum moleque de três corações, arranja tempo para distribuir felicidade aqui e acolá.
    Espero que o Edmundo, ainda que tão-somente um animal, tenha em seu íntimo essa consciência do inefável, como eu tenho, e que tanto me fortalece!

    ResponderExcluir